Um manifesto pelo direito à ambição feminina

“Nosso maior medo é sermos poderosas além da medida”  – Marianne Williamson

Se você me acompanha aqui no blog, lá no LinkedIn ou pelas redes sociais, provavelmente já deve ter visto que acabei de lançar oficialmente o meu segundo livro: “O Nascer da Escrita: encontre sua voz (e a de seus clientes) por meio das palavras”. 

Estou bem orgulhosa do projeto. Só que este texto não é para falar sobre ele. É, sim, para abrir meu coração sobre os bastidores e compartilhar alguns insights que eles me trouxeram sobre ambição feminina.

A verdade é que sempre fui uma mulher ambiciosa. Talvez seja coisa dos astros mesmo. Sou leão com ascendente em leão (peeeensa!)

Mas a realidade é que, nos últimos anos, desde que lancei meu blog e comecei a me publicar nas redes sociais, todo dia tem sido uma batalha entre mim mesma e a impostora que me habita.

Aí vai a verdade nua e crua: diante de cada venda do livro, diante de cada comentário de “parabéns”, diante de cada elogio, aqui atrás da tela ainda está uma menina/mulher que pensa: será que mereço?

Além da minha própria autossabotadora interior que luto para vencer todos dias, ainda parece que escuto outras vozinhas ecoando lá no fundo da mente: “Quem ela pensa que é? Essa menina ‘se acha’ demais”. 

Sim, parece que sou capaz de ouvir vozes de outras mulheres me julgando. E não é por loucura da minha cabeça, como já cheguei a pensar que fosse.

Nas leituras feministas recentes que tenho feito, acabei descobrindo algumas respostas para os fenômenos que acontecem sempre que uma mulher procura ocupar lugar de destaque profissional e financeiro nesta sociedade.

Neste artigo, quero falar um pouquinho sobre elas.

O medo de não ser mais “Outro”

No brilhante livro “O Segundo Sexo”, a francesa Simone de Beauvoir traz uma tese poderosíssima: a construção da mulher na sociedade faz com que ela se enxergue como o Outro

Quem seria o Outro? Alguém que não é “o homem”, ou seja, alguém que não é o sujeito de sua própria vida e história. O Sujeito (homem) se constitui fazendo do outro o Objeto.

A mulher, portanto, seria isto – o  Outro, o objeto. Viveria, assim, uma espécie de alienação de si mesma. O que também, segundo a própria, traz certas vantagens confortáveis. 

Acontece que essa passividade é um caminho nefasto, pois não permite a liberdade de que nos tornemos tudo o que podemos ser. A ambição, em minha visão, nasce do desejo de explorarmos nosso potencial por completo – de sermos livres para buscar nossa essência.

No contexto capitalista, para uma mulher, ter ambição significa buscar autonomia moral, financeira, intelectual e espiritual. É uma forma de afirmar-se, dizendo: “quero ser Sujeito da minha própria vida, não Objeto”.

É um ato de libertação. Mas o sistema atual não se interessa muito por mulheres livres, convenhamos. 

Criadas para julgar

Aí entra a outra complicação da ambição feminina. Me parece que, quando uma mulher se declara independente ou quer ocupar um espaço de independência e destaque, precisa encarar um enorme medo de ser julgada, observada e até excluída (muitas vezes, por outras mulheres).

Fomos criadas para aniquilar umas às outras. É triste demais.

Esses dias fiquei sabendo em off que uma filósofa negra que conquistou um lugar de destaque no meio literário está cobrando uma bolada para dar palestras. Logo de cara, também achei o valor extremamente alto.

Depois, fiquei pensando “ok, esse valor é bem alto mesmo”. Mas…há diversos filósofos homens brancos que cobram cachês semelhantes e nunca ninguém achou “estranho”.

Então, será que ela estaria errada em cobrar assim pela sua fala? Vindo de onde veio, estudando tudo que estudou? Quem coloca o valor no nosso trabalho? 

Onde quero chegar: a sociedade patriarcal (em sua parceria com a Igreja também, sejamos honestos), embutiu nas mentes femininas, de todas as formas, o medo de ser grande.

Era para sermos queridinhas, humildes, quietinhas. Amebas invisíveis, em outras palavras. 

Ser uma mulher ambiciosa é dizer não para tudo isso. É um ato de rebeldia e exige coragem.

A anulação é que deveria assustar

Para encerrar, compartilho aqui então a minha maior descoberta desde que decidi me publicar como autora e usar a minha voz para defender causas que julgo importantes: ser ambiciosa é assustador, sim. Mas há algo pior.

O que temo mais, hoje, é a ideia de reprimir meus talentos por conta dessas vozinhas e me esconder no vazio de um emprego do qual não gosto – ou pior! – no infinito vazio do interminável trabalho doméstico.

Penso que deveríamos ter mais medo de nos permitirmos ser anuladas, do que de ter grandes ambições – e, por que não? – um excelente salário também.

Ser dona da própria vida exige muita coragem. Mas eu quero encorajar você, aqui, a seguir o caminho que você mesma escolher e bancá-lo.

Não vou mentir: não é fácil. Só que é libertador.

E viver sem liberdade nada mais é do que uma morte diária.

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