O poder da palavra para pessoas e marcas

mãos escrevendo em um caderno, com uma xícara de café e croissant ao lado

“Qualquer história é melhor do que o caos. Na verdade, pode-se dizer que o caos da vida é uma condição crônica para a qual as histórias são o remédio” – Derek Thompson

O mundo é caótico. Eu mesma jamais imaginei na minha vida que sentaria em frente ao computador para escrever um livro durante uma pandemia mundial. Ainda assim, a realidade de 2020 foi essa.

A questão é que nós, homo sapiens, bem que tentamos organizar tudo. Mas grandes catástrofes e pequenos imprevistos diários sempre estão aí para nos lembrar: a verdade é que não temos controle real sobre nada. Isso nos assusta. Por isso, necessitamos de histórias e narrativas que sustentem nossas rotinas e escolhas de vida.

As histórias, pelo menos, nos dão um senso de controle. Uma ideia de que estamos seguindo em uma direção que faça sentido. Vivemos delas, nos alimentamos delas, criamos, cada um de nós, um certo roteiro de vida por meio das narrativas sociais em que acreditamos.

O brilhante historiador Yuval Harari fala sobre isso no livro “Sapiens: Uma Breve História da Humanidade”. Como espécie, para significarmos nossa existência, criamos narrativas. Marcas são narrativas. Personal branding em redes sociais não deixa de ser uma “narrativa” que criamos sobre nós mesmos. Cargos profissionais são narrativas.

Uma das ferramentas mais poderosas que sustenta todas essas narrativas é a palavra. Ela já imortalizou personalidades ao longo da história (quem não se lembra de emblemáticos discursos de Obama, Steve Jobs, J.K Rowling ou mesmo Churchill?). A palavra é o fio que costura postagens em redes sociais, blogs e toda esfera digital.

Derek Thompson, autor da frase que abre este texto, aborda a questão em “Hit Makers”, um livro que analisa minuciosamente como surgem as tendências globais. Ele conclui que a palavra, principalmente se bem colocada e repetida com uma frequência aceitável, porém não exagerada, é capaz de mover multidões.

Você sabia que na transcrição oficial da campanha “Yes, We Can” de Obama, a palavra “promessa” foi repetida 32 vezes? Há muita estratégia por trás do uso de palavras por parte de muitos marqueteiros e políticos. O que demonstra, por outro lado, que ela também pode ser perigosa. Determinados discursos, por meio da repetição, são capazes de alienar.

A escrita como revisão do que se passa em nós

É por isso também que, na esfera pessoal, penso que escrever seja tão assustador. Às vezes, quando escrevo meus diários (o que considero uma espécie de autoterapia), fico chocada ao contemplar o que está “saindo de mim”. Às vezes uma raiva, que eu nem sabia que estava ali, ou um sentimento inesperado por alguém.

Na correria da vida moderna, raramente paramos, respiramos e refletimos. Dar uma pausa e escrever é, portanto, uma maneira de “revisar” o que se passa dentro de nós. De não simplesmente engolir direto tudo que a gente escuta, ouve ou presencia. Todas as situações do nosso cotidiano geram um impacto emocional.

Quando não olhamos para isso, parece que tudo vai acumulando, acumulando, acumulando. Parar e escrever é uma forma de elaborar sentimentos e, até mesmo, eternizar momentos. Há textos que escrevi em determinados momentos da vida que, quando releio, parece que estou experimentando todas as sensações de novo.

Guardei, por meio de minhas palavras, lembranças de pessoas que se foram, memórias de momentos íntimos, detalhes de dias inesquecíveis. Muito do que fui e sou está ali. E posso ter acesso novamente a tudo isso quando quiser. É uma forma de compreender melhor quem já fui, o que aprendi e, a partir daí, moldar com mais clareza quem almejo ser daqui para frente.

Resumindo: a escrita é mágica. É por todos esses motivos que defendo veementemente que a palavra seja usada com responsabilidade, com alma, com verdade. Acredito que ela pode nos curar de diversas formas e, se você sonha em trabalhar escrevendo, penso também que poderá causar transformações sociais ao “emprestar” suas palavras a clientes/marcas.

Toda palavra nasce da emoção. Escrever acontece quando a gente experimenta um sentimento – prazeroso ou não – e tenta exprimir algo dali, entender, colocar no papel (ou Google Drive, ou Word, ou bloco de notas no celular). Às vezes travamos, o que é normal. Às vezes começamos a escrever tanto, que a mão chega a doer de tão feroz que é a experiência. Mas não dá para escrever sem sentir.

E o mundo, nos dias de hoje, parece se esforçar para não sentir. Medo, raiva, tristeza, melancolia, amor, dor, vontade, desejo, paixão. Parece que nada é permitido, você já teve essa impressão? Suprima tudo, tome um remédio para depressão, permaneça produtivo. O tempo é muito curto para lidar com sentimentos.

No cenário atual, escrever é quase um ato revolucionário de humanismo. Isso porque demanda justamente a necessidade de parar, ficar offline, desligar das redes, da poluição sonora e visual do mundo externo. A escrita demanda interiorização. Olhar para dentro. Resgatar o eu perdido.

Para citar também outra pessoa que me inspira muito: a jornalista Ana Holanda, autora do livro “Como se Encontrar na Escrita: o Caminho para Despertar a Escrita Afetuosa em Você”, diz em seu capítulo introdutório que escrever se tornou para ela justamente isto: uma experiência amorosa, humana em sua essência.

Quando aliada ao trabalho jornalístico ou de Marketing de Conteúdo, em sintonia, pode transformar-se então em ferramenta política e de transformação social. Revoluções hoje acontecem graças a pequenas telas de smartphones, que nos permitem partilhar instantaneamente uma mensagem a milhares de pessoas.

Hoje não posso mudar políticas, mas posso transformar a vida das pessoas pelas palavras. Quando isso acontece, a mudança acontece também”, escreve Ana Holanda. Pois eu sinto a mesma coisa.

O fluir das palavras

Escrever é, conforme referi, uma forma de contribuição. Primeiro e antes de mais nada, de mim para mim mesma. Escrevo sobre meus sentimentos, sobre minha forma de enxergar o mundo e minhas percepções, pois entendo que há padrões em mim que necessito observar. Como poderia usar com responsabilidade as palavras em outros projetos, sem estar bem comigo mesma?

Por isso, recomendo que, se você deseja também escrever profissionalmente, ensaie antes olhando para os seus próprios sentimentos. Captar o DNA de qualquer projeto de Marketing de Conteúdo depende de você estar alinhado(a) com o poder das suas palavras. Ter a dimensão de onde elas podem chegar.

Rabisque, teste, brinque com a sua escrita. Deixe por um momento os templates de lado. Posso dizer com propriedade: não é “copiando a fórmula” de alguém que você vai criar um caminho de escrita único e manter uma cartela legal de clientes.

Busque referências de escrita, capacite-se, sim. Mas faça questão de tirar um momento também para não pensar em nada disso. Desconecte-se de vez em quando.

O próprio Einstein dizia:

Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio: e eis que a verdade se me revela.”

Eu observei esse processo em mim mesma. A escrita mais pura não nasce de fórceps.

Nasce de um silêncio interior, de uma quietude quase que sublime.

Você tem se permitido essa quietude?

Este texto é uma adaptação do segundo capítulo do meu livro recém-lançado: “O Nascer da Escrita: encontre sua voz (e a de seus clientes) por meio das palavras”. Clique aqui para garantir seu exemplar e conferir na íntegra.

Onde estão tuas raízes?

Enraizar-se é um processo complexo dentro de uma sociedade que nos puxa para mil diferentes direções.

Confusos e cansados, começamos a criar raízes externas. Por meio de relacionamentos, posses, cargos profissionais. Nossos papéis moldam quem somos.

Mas isso não significa necessariamente ter raízes sólidas de verdade. Se tudo isso simplesmente sumisse, quem seria você? O que você seria sem seu emprego? Sem seu parceiro(a)? Sem sua casa?

Tudo isso um dia poderia sumir. Pode sumir até mesmo hoje – você não tem como saber. Não é possível evitar que tudo lhe seja tirado, por mais “seguros” que você tenha. E, então, o que restaria?

O equívoco não é enraizar-se em um papel. Mas esquecer que, antes de mais nada, é preciso estar bem enraizado em si mesmo.

Afinal, para onde quer que você vá, sozinho ou acompanhado, com ou sem dinheiro, com ou sem posses…lá estará você.

A gente gosta de tentar fugir, mas como Neruda certa vez colocou: em algum momento, inevitavelmente, encontraremos a nós mesmos. E esse poderá ser o mais feliz ou amargo encontro das nossas vidas.

Melhor é tentar, em doses homeopáticas, encontrar um pouquinho se si a cada dia.