Meditação e prática formal de Yoga para escritoras romperem suas barreiras mentais

“Todas as nossas palavras serão inúteis se não brotarem do fundo do coração. As palavras que não dão luz aumentam a escuridão.” – Madre Teresa de Calcutá

Se você, assim como eu até não muito tempo atrás, ainda não sabe realmente o que é Yoga, talvez a primeira imagem que lhe venha à mente diante dessa palavra é de um iogue muito magro, meditando na Índia, ou de alguém fazendo uma postura extremamente acrobática que lhe parece impossível. Trata-se de um equívoco.

Então, vamos começar a desconstruir. Preciso que você entenda, antes de mais nada: tudo isso não é Yoga em sua totalidade. E, como certa vez disse minha professora Maria Nazaré Cavalcanti, Yoga também não é sobre se vestir de indiano, cantar mantras o dia inteiro, virar um “bobalhão que só medita”.

Mas, então, o que é realmente praticar Yoga e meditar? E o que isso tem a ver com processo criativo e escrita?

É o que vou explicar melhor a você neste artigo. Para facilitar a compreensão, antes de procurar contextualizar o que é Yoga e meditação, vamos primeiro ao que não é

Yoga não é acrobacia ou fanatismo religioso

Nós, ocidentais, enxergamos muitas vezes os asanas (como são chamadas em sânscrito as posturas de Yoga), como algo exclusivamente físico. Por aqui, a visão da “praticante de Yoga” tende a ser a daquela que faz posturas, tem um tapetinho bacana, vai ao estúdio praticar duas ou três vezes na semana.

Tipo aquela coisa da Grazi Massafera, da Alessandra Ambrósio ou da Fernanda Lima postando fotinhos no Instagram de cabeça para baixo. Equívoco número dois.

Acontece que a parte física é uma minúscula ramificação do que é a verdadeira Yoga. Ela corresponde ao mecanismo que possibilita desacelerarmos nossa mente através do movimento e da respiração para que, a partir daí, possamos acessar um lugar de mais quietude interior, tranquilidade, algo que vai se refletir na forma como agimos em nossa vida diária e em nossos relacionamentos.

Então, sim: os asanas fazem parte da prática de Yoga. Mas não são tudo. Eles representam apenas um dos recursos, uma parte “formal” da prática.

Interessante pontuar que Yoga também não é uma religião, por si só. Existem, de fato, textos clássicos que apontam orientações de conduta, caminhos para o bem-viver.

Entretanto, diferentemente da forma como as religiões acabaram por se utilizar de mandamentos com um viés impositivo na cultura Judaico-Cristã, a filosofia yóguica aponta para um processo de construção.

Não é sobre proferir uma fé cega. É sobre você também ser participante ativo do seu processo de crescimento espiritual.

Trata-se de compreender novos ensinamentos e se permitir trilhar hábitos mais sadios para evoluir enquanto ser humano, buscando um caminho de libertação do sofrimento, mas sempre tendo como preceito inicial a não-violência também para consigo mesmo. 

Esse é o ponto de partida. Assim que a Yoga começa.

Yoga como filosofia para viver e escrever melhor

Se você já está aí pensando “esse negócio de fazer posturas e respirar não é para mim, não tenho paciência”, ou “essa coisa de Yoga é muito alternativa”, tente dispersar por mais um minuto esse pré-julgamento. Aliás, tenha em mente que eu também já pensei assim. Sou super acelerada e vidrada em tecnologia.

Se eu consegui trazer a Yoga para a minha vida, você certamente tem essa capacidade aí dentro também. E lembre-se, mais uma vez, do que escrevi agora há pouco: posturas e meditação não são a totalidade dessa prática. Tudo isso é, digamos, apenas a pontinha do iceberg.

Vamos esclarecer melhor, então: qual é, afinal, a verdadeira definição da prática de Yoga? O que significa a palavra Yoga como termo e filosofia?

Em excelente reportagem escrita para a hoje já extinta Revista Yoga Journal, o Professor Pedro Kupfer contextualiza que Yoga diz respeito a uma escola de vida, um conceito profundo e complexo, cujo significado tem sido transformado ao longo dos anos segundo os interesses daqueles que o utilizam.

O fato é que Yoga e filosofia caminham de mãos dadas, segundo ele. Aliás, o sábio Patañjali – cujos Yoga Sutras (códigos de conduta da aplicação prática da sabedoria ióguica na vida) foram escritos há mais de 2.000 anos e até hoje são tidos como referência para uma existência com menos sofrimento e mais presença -, foi um dos primeiros a cunhar o termo.

Pois bem, não é fácil realmente definir Yoga. “A bem verdade, Yoga deveria ser tratado como o que ele é de fato: uma escola filosófica, cujo objetivo final é a liberdade. Nesse sentido, o Yoga é digno herdeiro da espiritualidade indiana, fonte na qual bebeu e se inspirou, e da qual nunca se separou”, escreve Kupfer.

Em resumo: Yoga engloba desde práticas corporais e respiratórias que ajudam a pacificar a mente, até orientações sobre códigos de conduta que, se observados na vida diária, ajudam a reduzir nossa sensação de estarmos perdidos, desamparados, sem rumo, tristes e em sofrimento mental.

Muitas de minhas professoras já afirmaram: a verdadeira prática começa fora do tapetinho. Em um belíssimo texto intitulado “Isolamento Libertador”, Frans Moors – professor de Yoga que abdicou da vida corporativa para dedicar-se aos estudos acerca da filosofia – recorda que os Yoga Sutras de Patañjali, aos quais me referi agora há pouco, são os mais antigos textos que procuram introduzir esse conceito de Yoga.

São escrituras que dissertam acerca do funcionamento da mente e dos dilemas da psique humana, sinalizando direções para uma vida mais presente, elevada, livre de dores e ilusões materiais consumistas. E por que são fontes confiáveis?

Porque são milenares. São alguns dos textos mais antigos escritos pela humanidade, datados de cerca de 5.000 anos e originalmente colocadas em sânscrito – um idioma muito característico por sua construção sofisticada -, de modo que cada estrutura de uma palavra é embebida de significado, abrindo margem para uma interpretação profunda de seu real valor.

Igualmente porque os Vedas foram transmitidos de geração em geração. Primeiramente, por meio da tradição oral e, posteriormente, por meio de escrituras. Sua transmissão é pautada por um contato respeitoso e profundo entre professor e aluno. Esta é levada com extrema seriedade pelo povo indiano.

Em resumo, a cultura indiana preservou – e tem preservado – tais ensinamentos através do séculos a despeito de toda a exploração pela qual seu território já passou. Primeiro, pelas mãos dos muçulmanos e, posteriormente, nas mãos dos europeus, em tentativas sucessivamente frustradas de aniquilar essa cultura.

“Yoga é um presente da Índia para o mundo”, sintetiza a frase de um dos mestres de Yoga mais reconhecidos da história, T. K. V. Desikachar.

Viver Yoga é apropriar-se de seus ensinamentos na vida

Também quando participei de um Workshop sobre a Psicologia do Yoga, as maravilhosas professoras Maria Nazaré e Solange Wittmann explicaram que começamos a viver essa filosofia justamente quando nos apropriamos verdadeiramente dela. Ou seja: quando seus efeitos começam a refletir em nossas ações diárias, quando teoria e prática se alinham e realmente passamos a viver nossa verdade.

Yoga acontece quando a calmaria e a tranquilidade mental que adquirimos por meio da prática física passa a se refletir na forma como nos relacionamos com as pessoas, com o trabalho, com a alimentação, com a saúde, enfim, tudo ao nosso redor passa a se transformar também. É justamente nesse ponto que eu queria chegar.

A prática de Yoga entrou para valer na minha vida justamente no momento em que me senti mais perdida emocionalmente e a ansiedade tomou proporções gigantes. Foi quando pedi demissão do meu último trabalho como CLT e virei nômade digital, no ano de 2019. Afinal, toda minha forma de me perceber no mundo mudou.

Comecei a praticar no estúdio duas vezes por semana e, quando estava on the road, meu tapetinho ia comigo para qualquer lugar. Fosse para uma grande capital, como São Paulo, ou para uma praia remota, como Garopaba. Tem até provas lá no meu Instagram de que a Yoga se tornou minha companheira de viagens.

O que eu não imaginava era o quão profunda seria minha transformação quando acolhi essa filosofia realmente como algo diário, consistente. Não era capaz de dimensionar, quando iniciei, o quanto ela realmente também seria fundamental para que eu pudesse me tornar uma pessoa e profissional melhor.

Como a Yoga transformou minha escrita

Na condição de escritora isso quer dizer, em outras palavras, que eu não imaginava o quanto a Yoga impactaria na minha forma de escrever.

Porque ela me fez perceber que a nossa forma de usar as palavras também nasce muito do lugar interno em que a gente se encontra. E a prática me permitiu identificar que eu sou, na verdade, muito mais do que achava que era. Me empoderou, me fez ter mais confiança em mim mesma. 

Eu sempre atrelei quem eu era à minha profissão, ou ao papel que desempenhava no contexto familiar, ao meu salário ou status de relacionamento, conforme já referi anteriormente. A Yoga me fez lembrar que existe uma parte de mim que vai além de todas essas coisas. Essa partezinha que é a minha essência.

Me fez relembrar que não preciso ser um estilo “x” ou “y” de escritora, que não preciso assemelhar minha escrita a de outra pessoa, nem tampouco reproduzir a técnica mais recente de SEO ou Storytelling. O problema não é que exista mecânica na escrita, ela é importante.

O problema é que esse apego à técnica, muito provavelmente, é o que pode bloquear você. Sentir que você precisa “alcançar um determinado objetivo” com sua escrita pode bagunçar sua cabeça toda. Por que não simplesmente deixar fluir?

Praticar Yoga formalmente e meditar faz a gente aceitar com mais leveza o fluxo da vida. Simultaneamente, a escrita também se torna fluida. Menos dolorosa e mais prazerosa.

Ser criativo não funciona quando tentamos nos forçar a sermos criativos, como você já deve ter reparado. Isso porque a verdadeira essência de criar é a leveza, a tentativa de olhar pro mundo ressignificando-o de alguma forma. Moldando-o ao nosso novo olhar e recriando aquilo que há de feio nele.

Esse processo jamais pode ser forçado. A criatividade não floresce à base da cobrança, por meio de uma atividade estritamente mental.

É preciso paciência e amor-próprio. Agora, isto eu posso afirmar: se eu encontrei por meio da Yoga e da meditação uma forma de aflorar minha escrita com mais leveza, menos cobrança e mais amorosidade, você também é capaz de fazer isso.

Pode soar como algo meio “coaching”, mas estou disposta a correr o risco: existe, aí dentro de você, a capacidade de escrever palavras lindíssimas.

E não importa tanto o objetivo final. Se você quer escrever de uma forma bonita para um cliente, ou seu próprio livro, para as suas redes sociais, ou até no seu diário, talvez quem sabe conseguir expressar melhor sentimentos a quem você ama usando as palavras.

Toda essa capacidade já está aí dentro. Você precisa, apenas, se permitir abrir um espacinho para ela.

*observação: este texto é uma adaptação reduzida do sexto capítulo do meu livro “O Nascer da Escrita: encontre sua voz (e a de seus clientes) por meio das palavras”.

Você pode ter acesso a ele gratuitamente ao se inscrever no meu Workshop “O Nascer da Escrita”, no qual também poderá aplicar técnicas mencionadas neste artigo na prática, com a minha mentoria. CLIQUE aqui para se inscrever.

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