Resenha – Filme “A Baleia”

Foto: A24/Divulgação

Até que ponto pode chegar o ódio por nós mesm@s?

Para mim, esta é a pergunta-legado do novo filme de Darren Aronofsky – diretor que figura na lista dos meus favoritos -, chamado “A Baleia”.

No longa, uma de suas mais recentes críticas ao modelo norte-americano capitalista de sociedade, deparamos com um personagem protagonista empenhado em um processo (que por vezes parece consciente, em outras não) de completa autodestruição pelo ato de comer compulsivamente.

Em minha percepção, o “comer compulsivo”, embora literal, é, no entanto, também uma simbólica metáfora pela busca de nutrir um buraco mais profundo deixado pelo vazio existencial e um vibrante, potente, irrefreável sentimento de culpa. Esta, motivada por uma série de razões que, no decorrer do longa, tornam-se mais nítidas.

Entre elas, questões demasiadamente humanas e atuais: “fracasso” na relação matrimonial, dificuldades na relação parental, um amor homossexual tido pela sociedade – e a religião, em especial – como “errado”. Religião esta, aliás, que, diante de seu próprio feito de destruição psíquica, parece depois querer enviar “mensageiros” dispostos a corrigir os danos por ela mesma criados. 

O filme apresenta discussões que podem se estender por horas em distintas direções, permeando temas como o surgimento de seitas, os danos em potencial causados pelo teletrabalho, a dificuldade em se estabelecer um diálogo não-violento nas relações, o distanciamento social, o sedentarismo e a ascensão de ideologias de extrema-direita.

O que se pode constatar ao longo do filme, sobretudo, é que observar alguém em processo autodestrutivo, como já evidenciou Aronofski em outras de suas obras, simboliza uma das mais doloridas experiências humanas. 

A agonia talvez seja proveniente justamente pela constatação de por vezes ser impossível para alguém de fora refrear no outro esta necessidade tão mórbida de se punir. O trunfo final da obra é, em minha percepção, escancarar a questão: até que ponto cabe a nós decidirmos por outro alguém seu direito de viver e morrer? E como isso se dará?

 É legítimo acolher o suicídio (consciente ou inconsciente) de alguém, quanto este alguém escolhe ir? Ir é, afinal, uma escolha? Já não estamos todes indo, de todo modo, em direção à morte?

Talvez o que nos caiba, sobretudo, é cuidarmos também um pouco mais de nós mesmos. Isto é um modelo de autoamor.

Afinal, como em dado momento constata o personagem, o desejo de ajudar ao outro já é inerente ao ser humano – embora, muitas vezes, seja justamente aí que “passamos os pés pelas mãos”. 

Quanto ao outro, portanto, talvez procurar causar o mínimo de dano possível já seja um imenso trabalho. Um pouco de estrago, sob a perspectiva de Aronofski, possivelmente seja inevitável.

Mas que possamos amar a nós mesm@s, então, pode ser o mais próximo a uma mensagem de esperança deixada pelo diretor. A possibilidade de amparar outro alguém só é possível quando também nos amparamos.

E você? Acompanhou o filme? Sinta-se livre para expressar sua opinião nos comentários.

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