Fotografia: Suzanna Tierie/Divulgação, via Jornal Extra
Será que os filmes “Monster”, “Vitória” e a série “Adolescência” têm algo em comum, considerando a questão: o que a juventude quer nos dizer? Vou tentar explicar (a você e a mim mesma).
Talvez um dos papéis mais relevantes da Arte na sociedade seja este: colocar determinados temas em evidência. Assim como aos jornalistas, a partir de uma série de critérios, cabe decidir o que é ou não “notícia”, aos artistas cabe escolher sobre o que falar.
Por exemplo: ao escrever um texto de Dramaturgia, necessito entender SOBRE O QUE falar, PARA QUEM quero falar e a FORMA como quero falar. É neste sentido que procuro agora estabelecer uma relação entre três produções audiovisuais que acompanhei recentemente. O ângulo que escolho é justamente a presença de jovens nelas.
1. Adolescência
Na série “Adolescência”, da Netflix, a proposta da produção é bastante óbvia e já escancarada no título: precisamos falar sobre o universo dos adolescentes na atualidade. O mundo da internet afeta as percepções e as relações das e dos jovens sobre a realidade?
Indiscutivelmente, sim. Os pais de outras gerações compreendem de forma ampla este impacto? Indiscutivelmente, não. Isso pode levar a consequências trágicas.
Aqui no Brasil, reflexo do que acabo de escrever é a proibição por lei do uso de celulares nas escolas da Rede Pública e Privada. Enquanto artista-docente em uma delas, por intermédio do Projeto O Nascer da Poesia, concordo que a proibição é necessária.
No entanto, proibir é também uma forma radical de admitir: não fomos capazes, enquanto sociedade, de lidar com a questão de forma mais organizada. O que, a meu ver, simboliza também uma fragilidade de nosso sistema.
2. Monster
Já “Monster” é uma produção majoritariamente focada nas implicações do ambiente escolar a partir de diferentes perspectivas: a de uma mãe solo, um educador, uma diretora – e, claro, de alunos (dois, em específico).
Uma mensagem que ficou comigo a partir do filme é esta: precisamos acolher os afetos que brotam entre jovens – sem visões maliciosas de adultos. Este é um caminho possível para pensar possibilidades de futuro menos catastróficas.
3. Vitória
Por fim, cito “Vitória”, filme nacional que estreou recentemente com a gigante Fernanda Montenegro. Nele, a crítica central é outra: a problemática dos territórios no Brasil, algo que persiste desde que os primeiros europeus pisaram aqui e que ganha novos e assustadores contornos com a evolução neoliberal.
Aqui, temos como enfoque a milícia. A ditadura que nunca acabou em zonas periféricas tomadas pelo tráfico de drogas. Aquilo que remete às feridas mais profundas da nação (#MariellePresente – sempre).
Sim, entre tudo o que menciono e me parece caber neste texto, acho que talvez a ferida mais sangreta, latente e urgente de estancarmos no Brasil é esta: as vidas jovens perdidas para a droga, o vício, o caminho contrário à Educação e Cultura. Até quando?
Jovens de 13 anos [muitas vezes, negros], viciados em cocaína são seres humanos que denunciam ainda haver algo de muito equivocado nisto a que chamamos de civilização. É preciso repensar nossos modelos.
Naturalmente, neste texto procurei refletir sobre três criações audiovisuais muito distintas em vários aspectos. “Adolescência” é uma série que se passa na Inglaterra, “Monster” tem o Japão como contexto e “Vitória”, conforme citado, é uma produção nacional.
Todas elas, contudo, nos proporcionam um importante alerta: precisamos dialogar sobre – e com – adolescentes. Parar de estigmatizá-los de forma simplista como “difíceis”. Expressar nosso amor a elas e a eles. As e os adolescentes de hoje (que são também a esperança de algum futuro neste planeta sujeito à deterioração climática acelerada).
E você, já acompanhou a série ou os filmes citados? Quais foram as suas percepções? Fique à vontade para expressar sua opinião nos comentários.
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Com carinho,
Rafa