“A Casa dos Prazeres” é um filme que faz questionar: por que uma mulher não se prostitui?

Foto: Imovision/Divulgação

O que é o corpo humano?

O que é o corpo da mulher?

Um produto. Uma mecânica. O casulo de uma alma.

Talvez todas as anteriores hipóteses. A depender do contexto.

Ao pensar o modelo ocidental patriarcal capitalista, o grande mérito do filme francês “A Casa dos Prazeres” é justamente levantar estas questões.

Nele, a protagonista Emma Becker (vivida por Ana Girardot) decide viver na pele uma experiência “inusitada” para tecer a linguagem e mergulhar em profundidade na escrita de seu novo livro. E passa a se prostituir na cidade de Berlim.

O que ela busca, porém, de fato?

Talvez uma resolução de suas próprias questões de infância? A possibilidade de um prazer próprio? Pagar as contas e o aluguel do apartamento que divide com a irmã?

Ou, ainda, inverter a moral que esmaga a mulher socioeconômica e psiquicamente – aceitando receber um valor/hora de salário mais alto do que passar um dia na fábrica?

Seria, ainda, um ato de generosidade, do desejo de proporcionar prazer ao outro? A busca de um pai? Um cuidador? A necessidade de ouvir histórias? Ser vista?

Penso que o longa propõe todas estas interessantes nuances. Acompanhá-lo me fez lembrar de Naomi Wolf, em “O Mito da Beleza”, dizendo que uma pergunta essencial para compreender a prostituição não é: “por que uma mulher se prostitui?” – e, sim, “por que uma mulher não se prostitui?”

É fato que, em alguns momentos, o filme ainda me parece se equivocar em meio a certos clichês.

Por exemplo: a câmera lenta na cena de sexo com um possível namorado, alguém a quem ela aparenta se entregar “inteiramente” à libido para além do sexo mecânico.

O que se pode dizer, de todo modo, é que ao fim do longa a personagem parece encontrar o tom de suas palavras com precisão para a escrita de seu livro a partir da experiência vivida.

Quase invertendo o questionamento que proponho no início deste texto:

O que é o corpo do homem?

E, talvez, caiba ainda uma última “pergunta-legado” ainda mais interessante para mim e para você, leitora ou leitor:

Como seria para você, mulher que me lê, estar no corpo de um homem? Consegue imaginar?

E a você, homem que me lê, como seria estar no corpo de uma mulher?

Caso queira compartilhar a resposta, sinta-se à vontade nos comentários.

Filme em cartaz na Cinemateca Paulo Amorim da Casa de Cultura Mario Quintana.

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